Projeto Convergências

COMO TUDO COMEÇOU

Vivia na Suíça no início dos anos oitenta quando li O Corpo Tem suas Razões de Therèse Bertherat, grande sucesso de vendas tanto na França quanto no Brasil. Foi ali que, como muitas colegas de minha geração, ouvi pela primeira vez falar em Método Mezières. Em uma era pré-internet foi difícil localizar Mme Mezières e seu centro de formação. Acabei por localizá-lo em St Mont, uma pequena vila no interior da França. Depois de muitas dificuldades consegui me inscrever para o seminário de formação de julho e agosto de 1983.

Quando lá cheguei, encontrei Philippe Souchard  ministrando o curso de RPG. Ele havia sido sócio de Mezières durante os anos setenta e finalmente entrado em litigio com ela. Naquela altura havia conseguido manter o curso em andamento, mas perdido o direito de utilização do nome Método Mezières. Passou então a denominá-lo RPG, do qual Françoise Mezières não mais participava.

Fiz o seminário, que muito me interessou e intrigou, sem identificar o que aquilo tudo tinha a ver com o trabalho da Antiginástica descrito por Therèse Bertherat em seu livro.

Comecei trabalhar as posturas de alongamento em cadeia da RPG sem abrir mão da massagem de tecido conjuntivo dos músculos paravertebrais e da musculatura escapular, que sempre pratiquei desde os tempos de faculdade. Sabia que mobilizar as fáscias abaixo do subcutâneo leva a vários efeitos positivos – melhora da dor, da flexibilidade e da hipertonia muscular. A massagem como preparo, as posturas de alongamento em cadeia da RPG como conclusão revelaram-se uma combinação terapêutica poderosa.

A partir de 1984, já de retorno ao Brasil, traduzi os três primeiros seminários de formação de RPG em São Paulo e dois no Rio de Janeiro. Revi, então, várias vezes a teoria. Traduzi alguns livros de Philippe Souchard e a partir de 1986 fui solicitada a dar supervisões para colegas recém-formadas. Ensinar é a melhor forma de aprender. Essas supervisões eram discussões de casos seguidas de estudo de textos dos livros Fisiologia da Terapia Manual de Marcel Bienfait e da Cordenação Motora de Piret e Béziers, naquela altura ainda não traduzidos. Nesses textos encontrei bases teóricas que contrariavam, revisavam ou confirmavam princípios da RPG e comecei construir uma forma muito pessoal de juntar teoria e prática.

Até o inicio dos anos 90 traduzi toda obra de Marcel Bienfait e A Coordenação Motora de Piret e Béziers. Ambos os trabalhos são base para minha prática até hoje.

A partir de 1989 organizei, ministrei a teoria e traduzi a prática do curso de Terapia Manual – conceito Marcel Bienfait, por ele idealizado e ministrado. Isso se prolongou até 2005. Eu me responsabilizava pela teoria e ele pela prática. Com ele aprendi a importância do diagnóstico clínico postural, o papel da osteopatia e de que forma coordenar isso tudo dentro da fisioterapia. Entendi que nossa prática deve dividir-se em duas áreas: aquela dedicada à musculatura estática e a dedicada à musculatura dinâmica.

Os estudos desenvolvidos durante as supervisões e nos cursos de Terapia Manual mais a prática de dez anos de consultório, onde associei o diagnóstico clínico postural de Marcel Bienfait, massagem do tecido conjuntivo, manobras da Terapia Manual e posturas da RPG deram origem ao Projeto Convergências.

A  primeira formação iniciou-se em janeiro de 1993. Estruturei uma forma de organizar a aplicação de todas essas técnicas a partir dos diagnósticos clínicos posturais.  Para um curso onde se apresentam todos os meios voltados para um mesmo objetivo – o tratamento do aparelho musculoesquelético – não me ocorreu melhor nome que “Projeto Convergências”.

Desde então ele ocorre, sempre organizado por mim em S Paulo ou por colegas que por ele passaram e me convidaram para realizá-lo em suas cidades. Além de São Paulo já passei pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Londrina e Araraquara.

Em mais de vinte anos de existência, o conteúdo prático e teórico do curso se ampliou e deu origem, até agora, a três livros: Diagnóstico Clínico Postural, Biomecânica da Coordenação Motora e Postura Corporal- um guia para todos publicados pela Summus editorial.

FISIOTERAPIA ESTÁTICA

Em um texto de Marcel Bienfait do livro Os desequilíbrios estáticos, de sua autoria, me inspirei para denominar os procedimentos dedicados à musculatura antigravitária de “Fisioterapia Estática”.

Como já disse, os alongamentos em cadeia combinados com a massagem do tecido conjuntivo eram procedimentos que eu praticava com bons resultados para o músculo estático, aquele que fixa um desvio postural. Bienfait me mostrou que ele responde também a outras técnicas e ampliei esse arsenal fisioterápico. Além da massagem passei a aplicar pompages, derivadas da osteopatia; manobras de correção manual; suspiro relaxante; diagnósticos clínicos posturais essenciais para a escolha dos melhores procedimentos e verificação periódica da eficiência deles. Tudo isso constitui o preparo para o alongamento em cadeia, que finaliza os procedimentos por abordar de forma global o sistema musculoesquelético. Neste parágrafo se resume a concepção da Fisioterapia Estática.

No final dos anos oitenta fiz uma vivência em Ginástica Holística em São Paulo e nela reconheci os “preliminares” de Therése Bertherat descritos em seu livro o Corpo tem suas Razões,  citado no começo dessa história. Ao falar sobre suas influências profissionais, a autora cita várias pessoas, entre elas Mme Ehrenfried e Suze L, umas das primeiras alunas de Ehrenfried, mas diz que sua grande inspiradora foi Françoise Méziéres, dando a ela o maior destaque entre todos os personagens citados como seus formadores. Isso induziu muita gente a procurar Mezières, como eu, e não Ehrenfried. Curiosa, me inscrevi no primeiro seminário internacional de formação em Ginástica Holística em St Maur de Fossés na periferia de Paris no verão de 89 e 90.

Entre a primeira e segunda parte do curso traduzi Da Educação do Corpo ao Equilíbrio do Espírito, única obra deixada por Ehrenfried e a publiquei pela Summus Editorial.

Na Ginástica Holística me inspirei para a criação de novas manobras corretivas, para o alongamento em cadeia em posturas diversas daquelas da RPG, e para a criação da postura cruzada. Todos elementos que vieram ampliar essa abordagem que denominei Fisioterapia Estática.

 

MOVIMENTO INTEGRAL

Uma vez liberado de sua queixa, passei a trabalhar o cliente em grupo e foi na Ginástica Holística que encontrei os primeiros movimentos a serem aplicados com segurança.

Até hoje na montagem das aulas em grupo sigo sempre o principio de primeiro alongar, segundo realinhar e terceiro tonificar – talvez o único conceito teórico aprendido na Ginástica Holística, e toda a parte inicial de aquecimento é organizada com os movimentos nela aprendidos. Para mim foi uma escola, não como local onde se aprende para repetir, mas onde se encontra um caminho novo, que mostra novas formas de fazer e, sobretudo, de corrigir o que se faz e criar sobre os conceitos aprendidos.

Porém, as aulas em grupo não me pareciam completas apenas com o conteúdo da Ginástica Holística. Apesar desta sugerir que se tonifique a musculatura,  possui poucos movimentos realmente desafiadores que possam ser classificados como tônicos. Esses movimentos vim a encontrar mais tarde no Pilates Solo e no Treinamento Funcional. Duas novas abordagens que enriqueceram este lado complementar do trabalho fisioterápico. O conjunto desses elementos, que constituem o trabalho dinâmico, denominei Movimento Integral.

ELEMENTOS DO MOVIMENTO  INTEGRAL

O estudo das principais patologias do aparelho músculo-esquelético orienta os movimentos a serem evitados e aqueles necessários.

O aprendizado da estabilização do segmento lombar através do acionamento da musculatura abdominal durante a inspiração e expiração possibilita a estabilização da coluna lombar prevenindo lesões durante o trabalho corporal.

A aula respeita três tempos, seguindo o conceito  da Ginástica Holística, que são: relaxar, realinhar, tonificar

Relaxar o músculo tônico, fixador da má postura através de procedimentos de contato e alongamentos segmentares de inicio e em cadeia a seguir.

Realinhar colocando o esqueleto em boa postura na qual o músculo dinâmico pode trabalhar de forma eficiente e segura.

Fortalecer através de movimentos derivados do Pilates Solo e Treinamento Funcional.

Dessa maneira se aperfeiçoam os efeitos conseguidos através da Fisioterapia Estática ou se previnem os desvios estáticos e suas consequências (artroses, hérnias discais, LER).

O objetivo maior é constituir um trabalho corporal seguro para todos, portadores de patologias do sistema músculo-esquelético devidamente tratadas pelos meios terapêuticos da Fisioterapia Estática ou indivíduos sem queixas que querem um trabalho preventivo seguro.