Sobre

Essa sou eu, Angela Santos, fisioterapeuta, quase quarenta e quatro anos após minha colação de grau na USP em 1973. Recentemente, uma colega de turma decidiu organizar um encontro para comemorar a data. Alguém do grupo lembrou que fui a oradora e sugeriu que levasse o discurso para reler. Procurei, encontrei e relendo-o pela primeira vez depois de tanto tempo fiquei feliz com o conteúdo, apesar da qualidade literária lamentável, ao saber o que uma menina de vinte e um anos de idade tinha a dizer naquele momento simbólico de transição.

Depois de lembrar que, se estávamos ali era por temos ultrapassado um período dificílimo de problemas, lutas e algumas soluções positivas, dizia que o mais importante era termos um ponto de referência a seguir em todos os momentos dali em diante: o fato de pertencermos a uma profissão necessária, de papel seguro a desempenhar e que pertencer a ela, dentro da qual havia tanto a ser construído já era um grande estímulo. Terminava com a certeza de que conseguiríamos isso tudo se não fossemos conformistas, acomodados, se estudássemos constantemente, se não fossemos submissos nem auto-suficientes, se implantássemos o espirito de pesquisa, se encarássemos os próprios erros, se respeitássemos aqueles que o fazem.

De onde tirei tudo isso? Me perguntei. A resposta foi simples. Fiz parte da primeira turma a ser selecionada por um exame de curso superior para ingresso na USP. Na época poucos sabiam o que era fisioterapia. Eu mesma só soube durante o cursinho preparatório para o vestibular e minha escolha foi decidida por duas razões: tratava-se de uma profissão da área biomédica, que era meu maior interesse, e era o único curso de meio período, o que me permitiria trabalhar, condição necessária para que me aventurasse em um curso superior.

Assim, meu ingresso na USP aos dezessete anos não fez nenhum sucesso entre pais, amigos e vizinhos. Fracasso total de bilheteria. Mas, em um mercado carente desse profissional, pouco mais de um ano depois já consegui um estágio remunerado e desde aquela data nunca mais conheci um dia de desemprego. Entendi tratar-se de  uma profissão nova e de poucos profissionais disponíveis. Mas, a qualidade do ensino que recebemos e a enorme carência de conhecimento, que os estágios deixaram evidente, demonstraram o quanto tínhamos que construir.

Hoje usufruo da reputação de uma profissão que, como eu previ, podia sim crescer e se afirmar, mas que, paradoxalmente, nem sempre garante aos estudantes dessa nova era de reconhecimento os empregos que me foram disponibilizados quando ninguém sabia ao certo o que fazíamos.

Com a fisioterapia me mantive até o fim da faculdade, consegui emprego no Hospital das Clínicas da USP ao me formar, encontrei ali profissionais que me fizeram estudar e trabalhar. Três anos depois embarquei para a Europa com uma passagem só de ida e sem emprego e  foi de novo a fisioterapia que me possibilitou estagiar na Escócia e a seguir trabalhar na Suíça durante sete anos.

Estudei tudo que pude. Profissionalmente estive no lugar certo na hora certa. Nesta área considero que até hoje fiz escolhas corretas, das quais nada mudaria. Mas essa é outra história que relato nesse mesmo blog na página Projeto Convergências. Se você não leu, leia por favor. É a continuação dos relatos de minhas experiências profissionais que têm o objetivo de propor uma reflexão sobre possibilidades  da prática da Fisioterapia no Brasil hoje .