O TECIDO CONJUNTIVO

Este texto é baseado em um livro francês sobre histologia humana. As imagens foram                                                                    retiradas do mesmo livro: Les Tissus de Soutien de Marc Maillet                                                                                          publicado publicado pela Vigot editions, Paris 1979

O tecido conjuntivo assume múltiplas formas (cartilagem, tendão, parede arterial, fáscia de revestimento muscular, etc…), mas possui uma estrutura histológica comum que permite sua identificação. Em todos se registra a presença de quatro elementos fundamentais:

  1. Substância fundamental, líquida e amorfa
  2. Fibras de colágeno e fibras de reticulina
  3. Fibras de elastina
  4. Células do conjuntivo

Classificação: As diferentes variedades do tecido conjuntivo dependem da proporção de cada um de seus constituintes e a classificação utiliza como critério a predominância de um elemento em relação a outro.

Plasticidade: O conjuntivo é muito plástico, portanto pode se transformar e substituir um ao outro em função de condições fisiológicas ou patológicas.

Elementos Constituintes:

  1. Substância fundamental

Substância homogênea, amorfa, que ocupa os espaços entre fibras e células. Contem substâncias sintetizadas pelas células conjuntivas, substâncias que provem do plasma sanguíneo para nutrição, os catabólitos resultantes da atividade metabólica do organismo, além de ácido hialuronico, condroitinas, etc. Esse líquido circula livremente guiado pelas fibras conjuntivas. Trata-se de uma circulação de líquido livre, diferentemente da circulação sanguínea, canalizada. Comparando com o abastecimento das grandes cidades, a circulação canalizada em artérias e veias seria o abastecimento de água e a canalização de esgoto. A água chega à casa e deve extravasar nas pias, tanques, banheiros para ser utilizada e as águas usadas devem ser reconduzidas pelo esgoto. O sangue oxigenado que chega pelas artérias devem extravasar nos tecidos circulando livremente dentro deles,  levando nutrientes para que sejam utilizados pelas células e, em seguida, retirando os metabólitos resultantes dessa atividade que são reconduzidos à circulação canalizada das veias.

  1. Colágeno

Colágeno é uma proteína abundante no organismo humano. Representa de 30 a 35% do total de proteínas. Quando aquecida dá origem à gelatina.  Dispõe-se em fibras que se juntam em feixes.

As fibras colagenosas são extensíveis, mas não elásticas. Dão ao tecido conjuntivo sua característica de resistência a forças mecânicas.  São constituídas por fibrilas de colágeno reunidas por uma bainha externa – bainha ou membrana de Henlé.

Características:

Resistente a trações (por isso abundante em tendões, capsulas, ligamentos, aponeuroses)

Flexíveis (por isso presente na derme)

Insolúveis em agua fria, mas solúveis em água quente (dá origem à gelatina)

Digeridas por enzimas como proteases e colagenases.

 

  1. Reticulina

A. microscópio óptico
B. microscópio eletrônico

As fibras de reticulina são na realidade constituídas por um dos quatro tipos de moléculas de colágeno isoladas ou associadas em pequenos feixes. Correspondem a fibras de colágeno recentemente formadas que podem transformar-se em fibras de colágeno e organizar-se em feixes posteriormente.

São encontradas em tecido conjuntivo embrionário e nas regiões do organismo que efetua a síntese de fibras de colágeno.

Após o nascimento encontra-se em órgão hematopoiéticos como baço, gânglios linfáticos, medula óssea e órgãos epiteliais como fígado, rins, glândulas endócrinas formando uma rede em torno das células glandulares.

 

 

 

  1. Elastina

Elastina é uma proteína fibrosa, resistente, insolúvel em água quente ou fria. Trata-se da proteína menos solúvel do organismo. Uma única enzima a destrói por hidrólise, a elastase, uma enzima de origem pancreática.

As moléculas de elastina se dispõem em fibras que se anastomosam umas às outras como em uma rede de pesca. São extremamente extensíveis e retomam facilmente seu comprimento inicial assim que a força de tração se interrompe.

São abundantes na derme, nas paredes das artérias, no conjuntivo pulmonar, no mesentério,  nas cápsulas que envolvem certos órgãos.

 

 

Classificação

Baseia-se na quantidade relativa de células, de substância fundamental, de fibras de colágeno, fibras de elastina e a orientação destas ultimas.

  1. Tecido conjuntivo sem predominância – tecido conjuntivo frouxo

Caracteriza-se por uma disposição frouxa de fibras de colágeno com todos os elementos em proporções semelhantes. Células mais frequentes são os fibroblastos e macrófagos. Fibras de colágeno, de elastina e de reticulina estão soltas sem orientação predominante. Tudo isso mergulhado em pouca substância fundamental pouco densa.

Trata-se de um tecido de preenchimento. Constitui a  sustentação de tecidos epiteliais, do aparelho respiratório, digestivo, pleura, peritônio.

Assim, preenche diversas funções:

– Mecânicas: permite o deslocamento de órgãos e a mobilidade de tecidos, assegurando um retorno das estruturas à sua posição inicial.

– Transporte de metabólitos: oxigênio, gás carbônico, outros nutrientes e dejetos são transportados pelo tecido entre as células e capilares, sem barreiras a essas trocas, já que a substancia fundamental é pouco abundante.

– Cicatrização: As substância orgânicas perdidas  por agressão mecânica ou infecções são substituídas por tecido cicatricial providenciado pelo conjuntivo frouxo, de preenchimento.

– Defesa: è assumida em especial pelos macrófagos e pela substancia fundamental que funciona como barreira à propagação de bactérias.

  1. Tecido conjuntivo com predominância de substância fundamental

 – tecido conjuntivo mucoso

Pobre em fibras e células conjuntivas, o tecido conjuntivo mucoso é caracterizado pela abundância de substância fundamental.

É o principal componente do cordão umbilical e da polpa dos primeiros dentes.

As células são volumosas, maiores que a de outros tecidos conjuntivos, as fibras de reticulina são abundantes de inicio e com a evolução do feto começam a dar lugar para mais fibras conjuntivas. Fibras de elastina são raras, existem apenas nas paredes do cordão umbilical.

 

 

  1. Tecido conjuntivo com predominância de fibras colagenosas

– tecido conjuntivo denso

Esse tecido se caracteriza pela abundância em fibras de colágeno, poucas células, fibras de elastina e substância fundamental.  O trajeto das fibras de colágeno depende da direção das forças de tração mecânica a que são submetidas. Em função da disposição das fibras de colágeno podemos distinguir

a. Tecido conjuntivo denso não orientado – submetido a forças em todas as direções. Mais resistente que o conjuntivo frouxo e com fibras colagenosas mais próximas umas das outras e com pouco espaço para liquido intersticial. As células presentes são macrófagos e fibroblastos. Tem, portanto um papel mecânico e de defesa.  cápsula de órgãos como baço, testículos, etc.

Periósteo

Septos que dividem certas glândulas

Derme

A maioria das fáscias

 

b. Tecido conjuntivo denso orientado (ou tecido fibroso ) unitensionado

Tendões: fibras de colágeno bem juntinhas, paralelas no sentido da tração predominante agrupados em feixes, cada um deles  envolvido por uma bainha de tecido conjuntivo frouxo  que é o endotendíneum . Uma bainha fibrosa, o epitendineum,  envolve externamente o tendão e envia septos denominados peritendineum para o interior do tendão delimitando grupos de feixes.  Os fibroblastos que são as células tendinosas se organizam em filas paralelas às fibras colagenosas.

Ligamentos: De estrutura semelhante à do tendão, mas sua fibras são organizadas de forma menos regular.

Esse tipo de tecido conjuntivo é responsável pela transmissão de forças de tração mecânica. Pouco extensível (5%) e muito resistente, é capaz de suportar 1000Kg/cm2 de secção)

 

c. Tecido conjuntivo denso orientado bitensionado

Aqui as fibras se dispõem em planos sobrepostos. Em cada plano elas seguem uma mesma direção e as fibras do plano seguinte seguem uma mesma direção perpendicular à direção das fibras do plano vizinho.

Ex: As aponeuroses – aqui a substancia fundamental é rara e os fibroblastos, também raros, são localizados muito próximos às fibras de colágeno.

A córnea: os planos chegam a cinquenta e a substância fundamental é

abundante.

 

  1. Tecido conjuntivo com predominância de fibras de elastina – tecido elástico

A. corte longitudinal
B. corte transversal

Pouco abundantes no organismo é constituído especialmente por fibras de elastina dispostas em rede. Vascularização e inervação pouco desenvolvidas. Têm a função de manter um estado de tensão quando de um estiramento e de trazer à posição inicial assim que a força de tração cessa.

Ex.  Ligamento amarelo da coluna vertebral / Ligamento das cordas vocais / Ligamento suspensor do pênis

 

 

  1. Tecido conjuntivo de predominância celular – tecido adiposo

Trata-se de um tipo especifico de tecido conjuntivo no qual os adipócitos predominam. Corresponde de 15 a 20% do peso nos homens e de 20 a 25% de peso nas mulheres.

É composto por :

15 a 30 % de água,

2 a 3 % de proteína

1% de substancia minerais

60 a 80% de lipídios – sobretudo triglicérides.

Existe em muitas regiões do organismo, exceto sistema nervoso, pulmões, pálpebras e pênis.

CONCLUSÃO

Maillet, autor do livro no qual me baseei para compor esse texto e citei no início dele, não coloca em sua classificação o tecido ósseo, nem  o cartilaginoso. Coloca, logo após ao capítulo dedicado á classificação, um capítulo dedicado à cartilagem e outro ao tecido ósseo que necessariamente tem que ser considerados tecidos conjuntivos por serem constituídos por fibras de colágeno e eventualmente elastina.

Pesquisado na internet encontramos textos que classificam os tecidos conjuntivos organizando-os de forma um pouco diversa. (consulte, por exemplo https://www.todamateria.com.br/tecido-conjuntivo/)

No texto de Maillet vimos que um tipo de proteína formadora do tecido conjuntivo – a reticulina – encontra-se no adulto em órgãos hematopoiéticos como baço, gânglios linfáticos, medula óssea (além de órgãos epiteliais como fígado, rins, glândulas endócrinas)  formando uma rede em torno das células glandulares.  Assim o tecido hematopoiético também pode ser considerado um tipo de tecido conjuntivo.

O tecido conjuntivo com predominância celular armazena grandes quantidades de gordura e constitui o tecido conhecido por tecido adiposo.

O tecido ósseo, não citado, é um tecido conjuntivo por ser um tecido de sustentação mantido por uma armação de fibras de colágeno, impregnada por um complexo proteino-cálcico que envolve as células ósseas, os osteócitos. Além de sustentação, este tecido também tem papel de proteção de órgãos vitais (caixa craniana e as vértebras protegem o sistema nervoso); papel de regulação da calceinemia; papel hematopoiético  por conter células na medula óssea formadora de elementos sanguíneos.

O tecido cartilaginoso, também não citado, também é tecido de sustentação formado por fibras de colágeno e elastina. Sua classificação depende da quantidade de substância fundamental, quantidade e disposição das fibras de colágeno, presença ou ausência de fibras de elastina.

Assim, considerando a presença de colágeno e elastina, outra classificação de tecido conjuntivo poderia ser:

Tecido conjuntivo propriamente dito (que constitui fáscias, tendões, ligamentos, conjuntivo frouxo, peritônio…)

Tecido ósseo

Tecido cartilaginoso

Tecido hematopoiético

Tecido adiposo

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