ESCOLIOSE: OBSERVAÇÕES FUNDAMENTAIS

 

DEFINIÇÃO:

Frequentemente definida como uma lateroflexão, escoliose é uma deformidade da coluna nas três dimensões do espaço. René Perdriolle em seu livro Escoliose um estudo tridimensional demonstra que ela de desenvolve no plano frontal em láteroflexão, no plano sagital em posteroflexão e no plano horizontal em torção.

 

ESCOLIOSE – UM ESTUDO TRIDIMENSIONAL

de R. Perdriolle

Esta é uma monografia clássica, frequentemente citada em artigos sobre escoliose idiopática. Traduzida por mim, foi publicada pela Summus editorial.

A definição logo no início reza:: “A escoliose é uma deformidade anteroposterior em lordose engendrada por um movimento de torção; essa deformação se expressa lateralmente”. Pela ordem das deformidades citadas na definição se vê que a láteroflexão, usualmente tão valorizada, é uma consequência das duas outras que se desenvolvem nos dois outros planos.

Trata-se de um texto denso. Portanto não é para ler, mas para estudar. Para quem se interessar aqui vão algumas informações:

– O primeiro capítulo é um resumo de todos os itens que serão discutidos ao longo de todo o livro. Assim para os iniciantes aconselho:

– Inicie pelo segundo capítulo

– Estude do segundo ao oitavo capítulo

– Pule o quinto capítulo que também é bastante hermético

– Com isso se obtém as informações mais fundamentais a respeito da biomecânica e da patologia da evolução da escoliose idiopática.

PAPEL DA FISIOTERAPIA NA ESCOLIOSE IDIOPÁTICA

Em primeiro lugar realizar o diagnóstico precoce.

Isso seria possível se existisse a figura do fisioterapeuta escolar ou se pudéssemos colocar em prática um protocolo simples de exame a ser ensinado pelo fisioterapeuta aos profissionais que estão normalmente em contato com as crianças ao longo de seu desenvolvimento, que são os pediatras e os professores de educação física, para que então eles encaminhassem a criança precocemente diagnosticada ao profissional competente para trata-la. Isso talvez fosse mais simples de se fazer do que conseguir impor a figura do fisioterapeuta escolar.

Em segundo lugar os profissionais fisioterapeutas devem se colocar de acordo sobre quais os melhores procedimentos ou as melhores terapias a serem implementadas no tratamento dessa deformidade.

Quais os melhores alongamentos; quais os alongamentos contra indicados; as melhores manobras corretivas, não apenas na deformidade em si mas no corpo como um todo; quais as melhores condutas de autocorreção a serem aplicados no período pré colete e no período pós colete.

Temos também que entrar em acordo quanto a utilização do colete de contensão. Isto não deveria estar relacionado à gravidade da curvatura de lateroflexão, mas a uma combinação entre a presença de torção e a idade da criança. Quanto mais importante a torção e mais jovem a criança mais obrigatória seria a utilização do colete.

PROPOSTA DE EXAME PARA DIAGNÓSTICO PRECOCE DA ESCOLIOSE

Quatro testes mais importantes são decisivos para suspeitar-se de uma escoliose se instalando em uma criança em desenvolvimento:

Inclinação cervical ou elevação unilateral do ombro

Assimetria dos ângulos da cintura

Após equilíbrio do comprimento de membros inferiores verificação da existência de uma gibosidade torácica ou lombar (teste de Adams modificado) Para visualizar esse exame acesse AQUI

UTILIZAÇÃO DO COLETE DE CONTENÇÃO

Marcel Bienfait falou com muita objetividade sobre esse assunto. Lembrava que:

  1. A gravidade da escoliose não é determinada pelo seu grau de lateroflexão mas pelo seu grau de torção.
  2. O maior agravamento da maioria dos casos ocorre durante o estirão da adolescência
  3. Em consequência, sempre que estivermos frente a um pré-adolescente com uma torção raquidiana importante devemos vigiá-lo de perto para que no início da atividade das gônadas optarmos pela utilização de um colete de contensão que deveria ser mantido vinte e quatro horas por dia até o fim do crescimento.
  4. Paralelamente à utilização do colete a fisioterapia deveria atuar para a conscientização corporal, autocorreções, alongamentos para maior flexibilização, exercícios respiratórios e fortalecimento.

Trata-se de uma opção difícil, cara, de muita dedicação de todos os personagens envolvidos, mas o único caminho para eventualmente se frear o processo de evolução.

QUANDO INICIAR A UTILIZAÇÃO DE UM COLETE DE CONTENÇÃO

O momento ideal para a colocação de um colete de contenção é o início da adolescência. Resta saber quando essa adolescência se inicia. É de praxe o controle da ossificação da mão esquerda em crianças portadoras de escoliose idiopática que são seguidas pelo ortopedista, porque, de acordo com o atlas de idade óssea sabe-se que o aparecimento do sesamóide dessa mão coincide com o início da produção dos hormônios sexuais e portanto com o início da adolescência.

Nesse período o tronco cresce rapidamente e esse crescimento leva a um agravamento proporcional da deformidade. O colete serviria, então, como uma tentativa de contensão até o final do crescimento, desde que utilizado da maneira correta.

Além da realização periódica dos Raios X da mão esquerda, existe outra forma de controle para a detecção do início da puberdade  que é a observação do aparecimento e desenvolvimento das características sexuais secundárias, como o aparecimento dos seios, pelos, aumento dos testículos e pênis, etc.

A maioria destes sinais está condicionada à genética de cada  um, exceto o aparecimento dos pelos pubianos. Estes aparecem sempre próximos aos órgãos sexuais e aos poucos evoluem para a região superior do púbis. Perdriolle, inteligentemente nos chama atenção para esse fator. O aparecimento dos pelos pubianos também coincide com o inicio da atividade das gônadas. Esta seria uma forma mais prática, mais barata e menos invasiva de determinarmos o momento em que poderíamos, ou deveríamos, colocar o colete em uma criança que assim o necessite, de acordo com critérios que já discutimos nos parágrafos anteriores.

Ainda e no capítulo raios X de controle, Bienfait opina de forma muito inteligente a respeito. Se sabemos que a deformidade evolui com o crescimento, porque os Raios X de controle da evolução da deformidade são solicitados a cada tantos meses e não a cada tantos centímetros? Para isso o fisioterapeuta também seria um profissional muito útil. Pode estabelecer uma curva de crescimento, visto que a criança será tratada semanalmente, medindo-a sentada (assim se saberá se o crescimento foi do tronco) e a cada 3 a 5 cm de crescimento encaminhar para controle evitando assim Raios X inúteis que podem eventualmente ser feitos quando não houve crescimento.

Acesse também:

6 comentários sobre “ESCOLIOSE: OBSERVAÇÕES FUNDAMENTAIS

  1. Angela, que gostoso ouvi-la novamente!!! Fico feliz de vê la na rede, endereço certo daqui para frente!!!
    Um bj

  2. Ótimo ler vc novamente Angela, obrigada pelas dicas, fica a dúvida, se Bienfait enfatiza q o principal numa escoliose é a torção vertebral, o colete não estaria tratando mais a lateroflexão?

    • angela santos
      13:08 (Há 3 minutos)
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      Tatiana,
      Lembre que no colete existe um apoio contra a gibosidade em uma tentativa de contê-la. Mas, sem duvida, existe um componente mais importante de endireitamento, o que parece se opor em especial à lateroflexão. Mas, a grande função do colete é a de manter a coluna o mais endireitada possível, retirando a sobrecarga da concavidade. Isso permite que o crescimento ósseo nessa região ocorra da forma mais harmonica possivel, aproximando-se daquele que ocorre do lado da convexidade. Por essa razão ele deve ser utiilizado durante os periodos de estirão 24h por dia.

  3. Oi Angela!!! muito bom relembrar agora estes conceitos. Existe uma fisioterapeuta orientada por você que fez um trabalho em uma escola se não me engano. Algum lugar disponibiliza os achados?

    • Nilton,
      Há uma colega que fez sim um trabalho sobre escoliose em estudantes do primeiro grau, mas não foi orientada por mim, não. Vou me informar se esse trabalho está disponível e te retorno.
      Abraço

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