UTILIZAÇÃO DO ROLO DE ESPUMA PARA A COLUNA

UTILIZAÇÃO DO ROLO PARA A COLUNA

Como já comentei em post anterior, durante a minha formação em Ginástica Holística em Paris (1989-1990) utilizavam-se tubos rígidos de papelão sobre o qual toda a coluna era apoiada para a realização de movimentos sem qualquer estresse para esse segmento.

Tentei achar algo semelhante no Brasil e passei a realizar os movimentos propostos pela Ginástica Holística com os poucos clientes que suportavam a rigidez do material.

Em meados dos anos 90 ganhei de uma colega fisioterapeuta  uma revista francesa  – Résonances Européennes du Rachis Janeiro de 1994 n. 2

Ali encontrei um artigo interessantíssimo sob o título de Prevenção de dores raquidianas.

O autor, J. Teyssier lembrava que, se para os membros inferiores a reeducação proprioceptiva já havia se demonstrado essencial, poucas coisas haviam sido descritas até então para o tratamento das afecções raquidianas. Apesar disso, cada vez mais se falava sobre o papel da postura na etiologia de afecções vertebrais e da necessidade de regulação do tônus da musculatura paravertebral nos tratamentos de patologias ligadas ao crescimento durante adolescência (como escoliose) e nas dores em geral ao longo da vida.

Os ligamentos e os músculos mais profundos que forram essa estrutura articulada permite sua manutenção frente à ação da gravidade. A retração desses músculos e o enrijecimento ligamentar aumentam a pressão sobre os discos intervertebrais e originam dores e limitação de amplitude articular. Retração e hipertonia são os sinais de enfraquecimento da musculatura estática. É graças a elas que sua função continua ser garantida, mas não da forma fisiológica normal.  Esse enfraquecimento desorganiza os apoios sobre as estruturas intervertebrais e provocam instabilidade e dor.

Esses músculos profundos são, portanto, estabilizadores e o melhor estabilizador não é o mais forte, mas o mais rápido. A rapidez depende do bom funcionamento dos fusos, receptores neurológicos capazes de detectar o estado de tensão e as alterações de comprimento. Para que transmitam rápida e eficientemente as informações ao sistema nervoso central e que a resposta muscular a esses estímulos também seja igualmente rápida e eficiente é essencial flexibilidade ligamentar e muscular. Aí está o segredo do desenvolvimento do bom estabilizador. Quanto mais treinarmos flexibilidade e prontidão de resposta às alterações de comprimento e tensão da musculatura paravertebral mais se aperfeiçoa o sistema sensorio-motor que permite ao conjunto da coluna vertebral gerenciar de forma harmônica os movimentos conscientes e inconscientes do tronco.

No artigo citado encontrei algumas sugestões de como realizar esse treino com total segurança para a coluna.

    O material: o autor apresentava um “aparelho” denominado Kineform. Era simplesmente um cilindro de 1m de comprimento e 16 cm de diâmetro, recoberto por uma camada de material deformável elástico e pesava 2,4Kg.

 

 

 

Base da técnica: A postura básica era deitada sobre o tubo de maneira que a coluna ficava sustentada através das espinhosas alinhadas ao longo de todo seu comprimento. Esta postura em equilíbrio instável mantido deve levar, segundo o autor, a um desbloqueio intervertebral.

Essa postura retira completamente a carga da estrutura raquidiana e alivia o excesso de pressão sobre os discos intervertebrais ao permitir um alongamento dos ligamentos enrijecidos através de uma leve distensão da “mola” que é a coluna vertebral. O revestimento elástico do tubo permite manter ou ampliar essa distensão.

Reprogramação neuromotora: Ao adotar esta postura em equilíbrio instável mantido, todo sistema de percepção vertebral e das articulações intervertebrais posteriores (receptores proprioceptivos, ósteo-músculo-tendíneos e ligamentares do conjunto do tronco e das cinturas) é energicamente solicitado. Assim, se desperta no conjunto do tronco e das cinturas mecanismos de controle neuromotor para se obter sua integração nas atividades sejam neuromotoras (em associação e dissociação entre cinturas, membros, cabeça, tronco), sejam posturais (preventivas ou reeducadoras).

 

Objetivos: Induzir e reforçar os reflexos posturais que são os grandes protetores da coluna vertebral

Além desse conteúdo que resumi nos parágrafos acima havia também algumas ilustrações que reproduzo aqui e que me deram ideias de como trabalhar sobre o rolo.

 

Restava o problema de obter esse material. Importar estava fora de questão. Então tive a ideia de tentar algumas soluções artesanais locais. Com a ajuda de um tapeceiro fiz alguns experimentos e finamente cheguei a uma receita que reproduzo a seguir:

– 1m de tubo de PVC branco marca Tigre. Não se trata de propaganda paga. Para baratear custos tentei outras marcas que se quebraram rapidamente. Tigre nào quebra. Esse material se encontra em qualquer casa de material de construção.

– Levar a um tapeceiro e pedir para que ele recubra o tubo com uma manta de espuma de densidade 28 de 3cm de espessura (pode ser 4 para um rolo mais fofo) e que forre com um tecido impermeável.

O trabalho sobre o rolo revelou-se poderoso coadjuvante no preparo para as posturas de alongamento em cadeia. Passei a utilizá-lo sempre nas sessões de Fisioterapia Estática (após massagem do tecido conjuntivo e antes dos alongamentos segmentares ou em cadeia) ou no inicio das sessões de Movimento Integral.

Além das possibilidades de alongamento de peitorais, trapézios e isquiotibiais e trabalhos de média intensidade de abdominais em total segurança para discos e ligamentos vertebrais,  a utilização do rolo leva à considerável baixa do tônus dos músculos paravertebrais. Todo cliente após dez ou quinze minutos de trabalho sobre ele refere uma sensação de relaxamento e significativo aumento da área de apoio posterior ao voltar a deitar sobre o chão. Nunca encontrei trabalhos que justifiquem esse efeito. Tenho minhas opiniões a respeito. Mas isso é assunto para outro momento.